quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Inception

Escalei a estante e la em cima da prateleira cintilava laranja a minha caixinha.
Na verdade uma caixa grande, e se o valor sentimental contar alguma coisa, é na verdade a maior caixa de todas!
Já a tampa era toda memórias: "só enquanto eu respirar vou me lembrar de você...", ele escreveu, e eu acreditei...naquele tempo em que eu acreditava em promessas drásticas e apneia...
E então comecei a explorar cada papel que lá dentro estava, em cada frase que batia o olho doía ver o quanto eu era triste e não percebia, o quanto era feliz e reclamava,o quão "grande" eu parecia e o quanto imatura eu era.
Eis que do meio das cartas, das folhas de diário pela metade, das fotos, das flores secas e despetaladas, no meio de todo aquele lixo sentimental eu achei o porta retrato...Tinha 4 fotos e um recadinho, era grande e chamativo e no entanto o que mais me espantou não foi ter esquecido que ele existia, mas foi não ter reconhecido quem estava nas fotos comigo...Olhei, e nada veio a memória "quem é esse cara que tá feliz comigo?"



E o pior é que quando eu olhei melhor e lembrei e junto com a lembrança vieram todas as outras lembranças daquela época e aquela felicidade que eu achava que tinha e como em tão pouco tempo eu resolvi não ter mais nada...e aí foi fundo de mais e o resto são lágrimas...
Porque não esqueci todos esses dias de baladas ruins, de pessoas iguais, de bebidas iguais, de ressacas cada vez piores, de conversas superficiais, de músicas repetidas, de luzes artificiais, de risos forçados, de roupas surreais, de dinheiro mal gasto, dessa plasticidade de todos os dias? porque esqueci bem o namorado...? e aquela felicidade serena, e todo aquele carinho, e todo aquele aconchego, porque bem isso que eu mandei embora?
Tudo bem que depois dele vieram outros, e depois dos outros, realmente espero, que venham outros. Tudo bem que pros novos outros talvez eu esteja realmente preparada pra nao tratá-los como outros, nem como plural, mas não quero correr o risco de ter de novo "amnésia da felicidade"

A vida não dá tantos momentos únicos assim, pra nos darmos ao luxo de esquecer os bons momentos. Isso é sabotagem, e fingimento...

Pode ser que alguém leia e me julgue, pode ser que ninguém leia, pode ser que alguém leia e não me julgue, pode ser que ninguém se importe e no fundo tanto faz porque no final é tudo a mesma coisa, só as lembranças da impressão do que passamos é o que fica, e no meu caso, nada...

Ass: Somekindofmonster

"A Camila é fingidora
Finge tão completamente
Que finge sentir que é dor
A dor que deveras sente"

- tão fingidora, finge tão completamente, que finge ser dela o poema que é do Fernando Pessoa