quinta-feira, 21 de junho de 2012

Assim vou lhe chamar, assim voce vai ser...

E ele perguntava como um amor assim podia dar tão errado, e eu ignorante calava a resposta ..ou quando ainda mais ignorante gritava e esperneava por alguma outra coisa qualquer, a gota no vidro que escorria para o lado errado ou o acelerador do carro que ia afogado.

A verdade é que a grande pergunta nunca foi essa porque tudo funcionava justamente ao contrario, por ser o amor assim é que tudo dava errado, porque era do tipo de amor que de tão certo não deixava espaço pra nada mais ser certo.
Era certo conseguir pensar em outra coisa, era certo não passar todas as noites digitando declarações para depois não conseguir dizer nada ao vivo, era certo não ter a língua travada quando fosse dizer, era certo ir dormir ao invés que querer estar junto, era certo querer qualquer outra coisa do que estar sempre junto...mas ai chegava aquele amor e tudo o que seria certo se torna então enormemente errado porque  todo o sentido se concentrava só nesse amor, só pra ele, só por ele.

E por ele perdemos a razão que em algum momento tivemos,e colocávamos longe quando o que mais queria era puxar pra perto, e chorávamos quando o que mais queríamos era estar feliz, e calávamos quando o que mais precisava era falar por horas, e falávamos quando o peso do silêncio bastava para nos aconchegar.

"Quando o peso do silêncio bastava para nos aconchegar..." bastar... como se nesse amor alguma coisa bastasse, como se fosse possível se contentar com um fim, com qualquer fim...O fim talvez fosse o mais sem razão e o mais errado de tudo nesse amor.

Admiti-se absolutamente nenhum final
Que as gotas escorram pro lado errado,que tudo o mais perca a razão
Que o pensar constante beire a insanidade
Mas que nunca chegue ao final...




quarta-feira, 2 de maio de 2012

Amiga então será...

Chamemos então amiga. Bem poderia ser amor, bem poderia ser metade, bem poderia ser irmã, mas pela simplicidade de que necessita o belo,chamemos amiga.

Amiga então será, mas querendo mais ser chamada de igual. Ok, mudava a aparência, ela grande e eu pequena; e também o coração, o dela grande e o meu pequeno;de resto era o mesmo...principalmente aquela vontade de perfeição

Era como se quiséssemos mostrar pra vida,e pra todos que nela habitam, que se não formos escolhidas, é por pura incompetência e problema dela, porque nós eramos tudo: ao mesmo tempo que legal, inteligente;ao mesmo tempo que inteligente,animada; ao mesmo tempo que animada, bonita;ao mesmo tempo que bonita,alternativa;ao mesmo tempo que alternativa, bem sucedida;ao mesmo tempo que bem sucedida, legal.
E que não se engane quem pensa que nisso tudo falta modéstia porque era essa a origem de todos os males, era não acreditarmos em nada disso e procurar sempre o defeito, sempre aonde falta, sempre o que sobra, sempre nossa culpa, quase nunca nosso mérito.

Amiga então será, porque falta em mim profundidade: pra você sempre era de cabeça, de uma vez e até a ultima gota. Eu sempre olhando e tentando segurar,com meus sete passos para trás, escondida atrás de toda a razão, talvez não muito iguais, mas com certeza muito amigas.

Amiga então será, coberto de tudo que é belo, amiga pelo tempo,amiga pela intensidade,amiga   pelo que somos e pelo que nos ajudamos a ser. Nosso presente é bonito,nosso passado que nos julgue, porque nosso futuro virá grande, enorme e belo...feliz por ainda ter você

Minha amiga...

sábado, 14 de abril de 2012

Memórias das minhas putas tristes

"Me dá esse cigarro e sete isqueiros por favor!"
"Mas...sete isqueiros?"
"Quero ter certeza que o cigarro vai acender por completo e queimar rápido, bem rápido"
"E essa pressa? pra que que é?"
"Gastei quase todo meu tempo esperando quem nunca teve pretensão de realmente vir, agora me sobrou muito pouco..."

E ali sentada na cama, desgrenhada de pijama, circunscrita por papéis de bombom, inúmeros, me dei conta de como era patético e clichê curtir esse tipo de fossa covarde.
Mas então a voz amargurada lá de dentro dizia que realmente não se importava, pois que realmente fosse fraqueza comer todo aquele chocolate, pois que realmente fosse loucura desejar limpar todo o amargo de dentro com o doce vindo de fora, pois que de nada adiantasse ter diálogos imaginários com ele, repetindo cenas já vividas, só que agora sendo a mulher das palavras certas, sendo sensata e segura, tendo ele como seu marionete, enquanto mastiga o chocolate sozinha no quarto fazendo mais uma prega no pijama. Pois que tudo isso fosse só o patético do lugar comum, pois que transformasse a tristeza em algo vulgar, tirando todo o glamour das belas tristes, não se importava, porque a voz lá de dentro era forte, determinada, e realmente estava amargurada.

Existem as tristezas nobres e determinadas, que de tanto que doem nos incitam a abrir novas trilhas, descobrir novos caminhos, pra nunca mais ter que doer assim esse tanto. São tristezas grandes, tristezas de filósofos, tristezas que mudam histórias
Existe também a tristeza que comove mas não modifica, a tristeza que só tempera o cotidiano chato, mexe nas cores, faz ser bonito, tristeza de poeta que se não muda pelo menos embeleza
E existia a minha tristeza, xucra, mirrada e inútil. Era minha tristeza egoísta e sozinha, tão peculiar que quase podia mudar de nome e chama-lá insatisfação. Não era grande mal, não era enorme encomodo, era só a insatisfação de querer saber sem ter ao menos a pista de porque perguntava.


E era assim que latejava
Ali dentro
Naquele interior que nada mais querida dizer
Só se recolher lindo e quietinho dentro de si mesmo.


segunda-feira, 19 de março de 2012

Sobre os sapatos...

E então contavam pelo menos 5 minutos em que me dedicava a saltitar por entre as poças e pedras soltas da calçada. Em intervalos razoavelmente regulares de 30 segundos me lembrava de amaldiçoar a maldita hora em que sucumbi à ideia estúpida de usar salto! Garoava aquela chuva fina e intensa que de tão fina e intensa me fazia sentir coberta por um véu gelado e úmido, que ensopava o cabelo, grudava a blusa, e fazia deslizar o sapato (de salto).

Salpicava todo o verniz vermelho com bolinhas de barro que saiam das frestas entre as pedrinhas da calçada, perigosamente soltas. Andava o mais rápido que minha cautela com as pedras e que meus saltos permitiam, já passava das 10 da noite. Talvez andar não era propriamente o termo, meus pés doiam, eu saltitava como podia no chão solto que escorregava, sempre com a cabeça baixa e o pescoço torto tentando não perder o foco, sempre no caminho.

Foi então que dei um saltinho mais ousado, desafiando uma poça monstro que se formava a minha frente e meus sapatos (sempre eles), mais precisamente do pé direito, achou que aquilo era de mais pra ele,que pular poças tudo bem, mas que pequenos lagos já era exagerar na petulância e num gesto de protesto arrebentou a tirinha de couro que o prendia ao meu pé.

Só não caí porque meu ultrajado pé se torceu todo pra me manter erguida, cobrando, é claro, sua parcela de dor. Só não xinguei mais porque desconhecia mais do que os 20 palavrões que proferi todos juntos e ao mesmo tempo,começando com aquele com P, passando por aquele com C ... e enquanto massageando o tornozelo ofendido, foi que tive tempo de levantar o pescoço e notar o prédio.

Branco, 15 andares com as sacadas pretas.

Sai do bar sem me preocupar muito com que caminho tomava,sabia que até em casa era só descer 3 quadras, à direita mais duas, independente da ordem que fizesse isso, daria certo. Fui andando entretida com a saga do salto, virando quase aleatoriamente aonde parecesse mais fácil seguir saltitando e desse jeito me coloquei ali bem em frente ao prédio.

Os olhos institivamente procuravam a janela do 4°, sacada da direita... a luz estava acesa!

Já fazia o que? Três anos desde a ultima vez? Pelo menos quatro desde que uma das chaves que abria a porta do 4° andar sacada da direita andava na minha bolsa, que os porteiros do prédio branco , não importando de qual turno, me conheciam pelo nome e me deixavam subir sem nem interfonar...
Subir sem interfonar era o tipo de coisa que acontecia no começo de toda piada de corno, mas eu jamais ia adivinhar que quando diziam " não leve a vida tão a sério" queriam dizer "não leve a vida tão a sério ela é uma piadista" e a vida tinha me separado uma piada de corno.

Olhava vidrada para aquela janela com a luz acesa, pensava no que ele podia estar fazendo agora... por esse horário, se bem conhecia, estava vendo algum filme legendado qualquer na tv, de preferencia algo violento e bobo, molhando o sofá de suor pós corrida da noite enquanto esperava o entregador da comida do jantar...

Tudo aconteceu bem perto da hora do jantar, bem intencionada coloquei o vestido azul de botões que ele tanto gostava, passei no japa comprar temakis e fui levar pro meu querido troglodita. 4 de salmão completo e dois de atum. Me sentia linda, me sentia feliz e orgulhosa de chegar tão perto de ser o que imaginava ser a mulher ideial pra um homem como aquele. Só não imaginava que um homem como aquele podia estar num dia como aquele, numa hora como aquela com aquela loira da calcinha rosa-choque. O resto foram gritos, lágrimas, barulho,um chumaço de cabelo loiro entre os dedos, e um cheiro incrivelmente forte de atum.

Mas aquilo já fazia tempo, tanto tempo que depois de um ano tentei perdoar e tudo que eu consegui foi entrar por uma ultima vez no apartamento de sacada preta do prédio branco e sair de lá convicta de que nunca mais voltava, nem passava na porta, pra não correr o risco... era de mais, depois de um ano de toda aquela cena achar um porta retrato escondido no gavetão com a foto daquele boto rosa-loiro.

E já fazia realmente tanto tempo que depois disso realmente nunca mais. Comprei roupas melhores, entrei na academia, deixei o cabelo crescer, aprendi 2 novas línguas, melhorei de emprego, comprei um apartamento maior, fiz uma tatuagem, mudei de religião, fiz amigos lindos e comecei a andar de salto...Sem tempo pra pensar nele, vivi a vida que sempre quis sem nunca me lembrar daquele passado com loiras em trajes sumários nem suor no sofá, ele era passado, eternamente passado, e eu uma nova mulher, sem qualquer rancor ou ressentimento.

O tornozelo já parava de doer, me erguia de vagar novamente pra retomar minha caminhada, quando o vulto apareceu... era ele, incontestavelmente era ele. Ou a sombra me enganava ou estava mais forte, os braços maiores... braços, antebraços e mãos...mãos que seguravam uma cintura fina e a jogava pra trás, pareciam rir, os cabelos dela voando para trás com o vento que vinha da sacada. Eram só sombras, pretas, sem nenhuma cor e no entanto eu podia jurar a cor amarela do cabelo e a rosa choque da calcinha.

Foi um daqueles momentos que de tão rápidos a gente não sabe falar como foi que começou, quando me dei conta meu sapato não estava nem no meu pé, nem mais na minha mão, ele voava querendo alcançar o quarto andar do prédio branco com a sacada preta, errando por muito, acertando só a guarita do porteiro.

Sai andando com uma digna claudicação, pois nada daquilo se tratava de orgulho ferido ou raiva e sim de um sapato quebrado que encontrava seu destino. Afinal eu não era do tipo que mulher que guardava rancor, sapatos quebrados e ressentimentos.




quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Inception

Escalei a estante e la em cima da prateleira cintilava laranja a minha caixinha.
Na verdade uma caixa grande, e se o valor sentimental contar alguma coisa, é na verdade a maior caixa de todas!
Já a tampa era toda memórias: "só enquanto eu respirar vou me lembrar de você...", ele escreveu, e eu acreditei...naquele tempo em que eu acreditava em promessas drásticas e apneia...
E então comecei a explorar cada papel que lá dentro estava, em cada frase que batia o olho doía ver o quanto eu era triste e não percebia, o quanto era feliz e reclamava,o quão "grande" eu parecia e o quanto imatura eu era.
Eis que do meio das cartas, das folhas de diário pela metade, das fotos, das flores secas e despetaladas, no meio de todo aquele lixo sentimental eu achei o porta retrato...Tinha 4 fotos e um recadinho, era grande e chamativo e no entanto o que mais me espantou não foi ter esquecido que ele existia, mas foi não ter reconhecido quem estava nas fotos comigo...Olhei, e nada veio a memória "quem é esse cara que tá feliz comigo?"



E o pior é que quando eu olhei melhor e lembrei e junto com a lembrança vieram todas as outras lembranças daquela época e aquela felicidade que eu achava que tinha e como em tão pouco tempo eu resolvi não ter mais nada...e aí foi fundo de mais e o resto são lágrimas...
Porque não esqueci todos esses dias de baladas ruins, de pessoas iguais, de bebidas iguais, de ressacas cada vez piores, de conversas superficiais, de músicas repetidas, de luzes artificiais, de risos forçados, de roupas surreais, de dinheiro mal gasto, dessa plasticidade de todos os dias? porque esqueci bem o namorado...? e aquela felicidade serena, e todo aquele carinho, e todo aquele aconchego, porque bem isso que eu mandei embora?
Tudo bem que depois dele vieram outros, e depois dos outros, realmente espero, que venham outros. Tudo bem que pros novos outros talvez eu esteja realmente preparada pra nao tratá-los como outros, nem como plural, mas não quero correr o risco de ter de novo "amnésia da felicidade"

A vida não dá tantos momentos únicos assim, pra nos darmos ao luxo de esquecer os bons momentos. Isso é sabotagem, e fingimento...

Pode ser que alguém leia e me julgue, pode ser que ninguém leia, pode ser que alguém leia e não me julgue, pode ser que ninguém se importe e no fundo tanto faz porque no final é tudo a mesma coisa, só as lembranças da impressão do que passamos é o que fica, e no meu caso, nada...

Ass: Somekindofmonster

"A Camila é fingidora
Finge tão completamente
Que finge sentir que é dor
A dor que deveras sente"

- tão fingidora, finge tão completamente, que finge ser dela o poema que é do Fernando Pessoa

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

but sometimes its a good hurt

....and it feels like i'm alive!


Mais uma vez sentada aqui na luz branca, passando a mente aleatoriamente em todas essas pessoas daí de fora. Tudo rápido como quem assiste tv num domingo a tarde, 3 segundos parada em cada pensamento/canal me basta para saber que a programação inteira não serve.
E não digo isso com desdém de quem foi deixado largado sozinho no sofá, num sofá de domingo a tarde por exemplo, mas com o espanto de quem passa a achar argumentos para duvidar da sua maior crença!
No meu profundo conhecimento de fossas cavadas em domingos a tarde começo a ver que na verdade talvez a gente não tenha sido feito pra essas coisas de enredo fantástico, de amor maior, de felizes para sempre, de paixão, de excessão a todas as regras. Essa crença cai, ficam as outras...
Quem sabe a crença maior não seja só estar viva e sobreviver a cada dia, sobreviver a todos os domingos, levando as responsabilidades, atravessando a rua pra completar a paisagem, estar no caos e odiar isso e e então na presença do ódio talvez temos a única prova cotidiana do amor: a presença incomoda do seu exato oposto- se odiamos é porque talvez um dia, na semana sem domingos, possamos também amar.

"Love hurts but sometimes its a good hurt and it feels like i'm alive", porque no momento sinto-me apenas atolada nesse marasmo do eterno domingo.