segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Saco vazio não para em pé

Hoje fui preencher um questionário no estilo "aperte o botãozinho que mais parece com a sua opinião" e com algumas questões abertas com espaço para dissertar a respeito do que você pensava.
Comecei a responder e nas questões abertas notei que estava respondendo tudo em tópicos sem unir as palavras uma a outra, mesmo que fizessem parte de um mesmo pensamento...
Como cabeça vazia mente de demônio e por acaso encontro-me de recém férias, comecei a pensar que eu nunca tinha sido esse tipo de pessoa-tópico. Sempre gostei de longas dissertações e de "justifique sua resposta" e de mostrar a cadência do meu pensamento e fui anos a fio feliz assim. A filha pródiga das ciências humanas e da boa e velha encheção de linguiça; eu tinha esse poder e me dava bem assim.Me dava bem assim até o primeiro ano de medicina...
O maravilhoso mundo do primeiro ano de medicina, o lugar em que finalmente descobri o quanto realmente era ruim ser péssima. Minhas notas iam sempre afundadas e eu não tinha a menor pista do porque, acreditava que ler o livro inteiro era muito melhor do que ler o resumo, acreditava que eu podia entender os conceitos ao invés de simplesmente decorá-los, acreditava que deveria dar respostas completas e não simplesmente respostas em tópicos, mas o fato é que a água só parou de bater na bunda e junto com ela o desespero e junto dele as promessas intermináveis e sempre renegociáveis com Deus, quando aprendi que estavam me treinando pra ser uma pessoa de uma única resposta certeira e não necessariamente uma pessoa de pensamento certo.
Minhas notas eram diretamente proporcionais a minha capacidade de retirar o pensamento do que eu pensava. 
Hoje, seis anos depois, praticamente formada, cheguei a esse cúmulo do ridículo de ficar horas sentada nesse computador tentando escrever esse texto boçal sentindo a maior dificuldade em unir as palavras, sem conseguir lembrar de absolutamente nenhum advérbio não mainstream de mais que desse um charminho pra minha ideia, mas sendo plenamente capaz de dizer:
                       - dificuldades em preencher o questionário
                       - dificuldades em cadenciar o pensamento
                      - provável resquício do pensamento imposto pela medicina
                      - viva o mais médicos  
      


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Começa o mundo enfim pela ignorância

Fiquei muda diante do teclado como me calei diante a vida.
Não existe eufemismo possivel ante a tragédia tão ao lado, não existe pouca exposição nem palavras completas que não tendam ao sensacionalismo.

A tristeza que cala sozinha e acompanhada da impotência. Essa última que não traz consolo, apenas o da fé. Esse último que nos diminui, nos coloca no tamanho mínimo compatível com nosso tamanho real no universo.

Menosprezar essa impotência apenas mostra a ignorância frente a grandeza do que estamos vivendo. Uma vida diz adeus e tudo o que podemos fazer é acenar de volta, torcer para que faça boa viagem pelo caminho melhor e esperar até o dia em que nos viraremos apenas para acenar.

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?

Se formosa a luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol e na luz, falta a firmeza,

Na formosura não se crê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,

E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

[GREGÓRIO DE MATOS]