sábado, 14 de abril de 2012

Memórias das minhas putas tristes

"Me dá esse cigarro e sete isqueiros por favor!"
"Mas...sete isqueiros?"
"Quero ter certeza que o cigarro vai acender por completo e queimar rápido, bem rápido"
"E essa pressa? pra que que é?"
"Gastei quase todo meu tempo esperando quem nunca teve pretensão de realmente vir, agora me sobrou muito pouco..."

E ali sentada na cama, desgrenhada de pijama, circunscrita por papéis de bombom, inúmeros, me dei conta de como era patético e clichê curtir esse tipo de fossa covarde.
Mas então a voz amargurada lá de dentro dizia que realmente não se importava, pois que realmente fosse fraqueza comer todo aquele chocolate, pois que realmente fosse loucura desejar limpar todo o amargo de dentro com o doce vindo de fora, pois que de nada adiantasse ter diálogos imaginários com ele, repetindo cenas já vividas, só que agora sendo a mulher das palavras certas, sendo sensata e segura, tendo ele como seu marionete, enquanto mastiga o chocolate sozinha no quarto fazendo mais uma prega no pijama. Pois que tudo isso fosse só o patético do lugar comum, pois que transformasse a tristeza em algo vulgar, tirando todo o glamour das belas tristes, não se importava, porque a voz lá de dentro era forte, determinada, e realmente estava amargurada.

Existem as tristezas nobres e determinadas, que de tanto que doem nos incitam a abrir novas trilhas, descobrir novos caminhos, pra nunca mais ter que doer assim esse tanto. São tristezas grandes, tristezas de filósofos, tristezas que mudam histórias
Existe também a tristeza que comove mas não modifica, a tristeza que só tempera o cotidiano chato, mexe nas cores, faz ser bonito, tristeza de poeta que se não muda pelo menos embeleza
E existia a minha tristeza, xucra, mirrada e inútil. Era minha tristeza egoísta e sozinha, tão peculiar que quase podia mudar de nome e chama-lá insatisfação. Não era grande mal, não era enorme encomodo, era só a insatisfação de querer saber sem ter ao menos a pista de porque perguntava.


E era assim que latejava
Ali dentro
Naquele interior que nada mais querida dizer
Só se recolher lindo e quietinho dentro de si mesmo.


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